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miércoles, 24 de febrero de 2010

AS ORIGENS DO RITUAL

DE LOS ORIGENES DE LOS RITUALES
EN TODO LOS NAVEGADORES, HAY BUENO TRADUCTORES, QUE RETOCANDO SOLO UN POCO EL TRANSFONDO, TE LLEVA A UNA BUENA TRADUCCION, O PAGINAS, QUE ESCRIBIENDO LA URL, HACEN EL MISMO TRABAJO; DEL BRASILEÑO, PARA PORTUGES


AS ORIGENS DO RITUAL
NA IGREJA E NA MAÇONARIA
Helena Petrovna Blavatsky


PARTE I

Os teosofistas são muitas vezes injustamente acusados de infiéis e mesmo de ateus. É um grave erro, especialmente em se tratando de última acusação.

Numa Sociedade importante [1][1], formada de membros pertencentes a tantas raças e nacionalidades diferentes; numa associação onde cada homem e cada mulher é livre de crer o que prefere, e de seguir ou não, segundo seu desejo, a religião sob a qual nasceu e foi educado, há pouco lugar para o ateísmo. Quanto à acusação de "infiel", é contra-senso e fantasia. Para demonstrar o ABSURDO, basta-nos pedir a nossos difamadores que nos mostrem, no mundo civilizado, a pessoa que não seja considerada "infiel" por alguém pertencente a uma fé diferente. Quer se trate dos círculos altamente respeitáveis e ortodoxos, ou da "sociedade" que se diz heterodoxa, será sempre o mesmo. É uma acusação mútua, tácita e não abertamente expressa; uma espécie de raquetes mentais, onde cada um devolve a bola num silêncio educado.

Em realidade, nenhum teosofista ou não-teosofista pode ser "infiel", e por outro lado, não há ser humano que não o seja na opinião de um sectário qualquer. Quanto à acusação de ateísmo, é outro caso.

Que é ateísmo?, perguntamos em primeiro lugar. Será o fato de não se crer na existência de um Deus ou deuses, e de negá-la, ou será simplesmente a recusa em aceitar uma deidade pessoal, segundo a definição um tanto violenta de R. Hall, que define o ateísmo como um "sistema feroz que nada deixa ACIMA de nós, para inspirar o terror, e nada ao nosso redor para despertar a ternura"! Isso é duvidoso para a maior parte dos nossos membros, caso se aceite a primeira condição, pois que os da Índia e Birmânia, etc., acreditam em deuses, em seres divinos e temem alguns deles.

Assim, também, um grande número de teosofistas ocidentais não deixaria de confessar sua crença completa em espíritos planetários ou do espaço, fantasmas ou anjos. Muitos dentre nós aceitam a existência de inteligências superiores ou inferiores, de Seres tão grandes quanto qualquer Deus "pessoal". Isto não é segredo. A maior parte dentre nós crê na sobrevivência do Ego espiritual, nos Espíritos Planetários e nos NIRMANAKAYAS, esses grandes Adeptos de eras passadas, que, renunciando seus direitos ao Nirvana, permanecem nas esferas em que vivemos, não como "espíritos", mas como Seres espirituais humanos completos.

Eles permanecem tais como foram, excetuando o que se refere a seus invólucros corporais visíveis, que abandonaram a fim de ajudar a pobre humanidade, na medida em que essa ajuda possa ser dada, sem ir de encontro à Lei Kármica. Essa é realmente a "Grande Renúncia", um incessante sacrifício consciente através dos EONS e eras, até o dia em que os olhos da humanidade se abrirem e, em lugar de um pequeno número, TODOS reconhecerem a Verdade Universal. Se permitissem que o fogo que anima os nossos corações, como idéia do mais puro de todos os sacrifícios, fosse inflamado pela adoração e oferecido sobre um altar elevado em sua honra, esses seres poderiam ser considerados como Deus ou Deuses. Mas, não o querem. Em verdade, é somente no imo do coração que se deve elevar, neste caso, o mais belo Templo de Devoção; qualquer outra coisa não seria mais que ostentação profana.

Consideremos agora outros Seres invisíveis, dos quais alguns estão muito acima e outros muito abaixo na escala da evolução divina. Dos últimos, nada podemos dizer; quanto aos primeiros, nada nos podem dizer, porquanto nós não existimos perante eles. O homogêneo não pode ter conhecimento do heterogêneo, e (a não ser que aprendamos a fugir do nosso invólucro material para "comungar" de espírito a espírito) não podemos esperar conhecer sua natureza real.

Mas, todo verdadeiro teosofista afirma que o Eu Superior divino de cada homem mortal é da mesma essência que a desses Deuses. O Ego encarnado, dotado de livre arbítrio, possuindo, por isso, maior responsabilidade, é, a nosso ver, superior, e até, talvez, mais divino que qualquer INTELIGÊNCIA ESPIRITUAL que ainda espera a encarnação. Do ponto de vista filosófico, a razão é clara, e todo metafísico da escola oriental a compreenderá. O Ego encarnado está na dependência das dificuldades que não existem para a pura Essência divina não associada à matéria; neste caso, não há nenhum mérito pessoal, ao passo que o Ego em encarnação está no caminho de seu aperfeiçoamento final através das provações da existência, da tristeza e do sofrimento.

A sombra do Karma não pode se estender sobre o que é divino, isento de qualquer ligação e tão diferente do que somos que não pode haver entre nós relação alguma. Quanto a essas deidades, que no Panteão esotérico hindu são consideradas finitas e, por conseguinte, submetidas ao Karma, jamais um verdadeiro filósofo consentirá em adorá-las; são figuras e símbolos.

Seremos nós, então, considerados ateus porque, crendo nas Falanges Espirituais - nesses seres que vieram a ser adorados na sua coletividade como um Deus PESSOAL - recusamo-nos terminantemente a considerá-las como representantes do Uno Incognoscível? Porque afirmamos que o Princípio Eterno - o TODO NO TODO DO PODER ABSOLUTO, DA TOTALIDADE - não pode ser expresso por palavras limitadas, nem por ter por símbolo qualquer atributo condicionado e qualificativo? Ainda mais, deixaremos passar sem protesto a acusação de idolatria que atiram sobre nós os católicos romanos, os quais seguem uma religião tão pagã quanto a dos adoradores dos elementos do sistema solar? Católicos, que tiraram o seu credo, aliás, diminuído e dissecado, do paganismo existente há muitas eras antes do ano I da Era Cristã; católicos cujos dogmas e ritos são os mesmos que os de qualquer nação idólatra - se é que alguma ainda existe.

Sobre toda a superfície da Terra - do Pólo Norte ao Pólo Sul, dos golfos gelados dos países nórdicos, às planícies tórridas do sul da Índia, na América Central, na Grécia e na Caldéia - era adorado o Fogo Solar, como símbolo do Poder Divino, criador da vida e do amor. A união do Sol (o espírito - elemento masculino) com a Terra (a matéria - elemento feminino) era celebrada nos Templos do Universo inteiro. Se os pagãos tinham uma festa comemorativa dessa união - a festa que celebravam nove meses antes do Solstício de Inverno, quando se dizia que Ísis tinha concebido - também a têm os católicos romanos.

O grande e SANTO DIA da ANUNCIAÇÃO, o dia no qual a "Virgem Maria" recebeu o favor de (seu) Deus e concebeu o "Filho do Altíssimo", é celebrado pelos cristãos NOVE MESES ANTES DO NATAL. Donde vêm a adoração do fogo, das luzes e lâmpadas nas igrejas? Por que isso? Porque Vulcano, o Deus do Fogo, desposou Vênus, a deusa do mar; e é por essa mesma razão que os Magos velavam o Fogo Sagrado como as Virgens vestais do Ocidente. O Sol era o "Pai" da eterna Natureza Virgem-Mãe; Osíris e Ísis; Espírito-Matéria, este último adorado sob seus três aspectos pelos pagãos e cristãos. Daí vêm as Virgens - dá-se o mesmo no Japão - vestidas de azul estrelado, apoiadas sobre o crescente lunar, símbolo da Natureza feminina (em seus três elementos: ar, água e fogo); o Fogo ou o Sol, macho, fecundando-a anualmente pelos seus raios luminosos (as "línguas de fogo" do Espírito Santo).

No KALEVALA, o mais antigo poema épico dos finlandeses de Antigüidade pré-cristã, o que nenhum erudito poderá duvidar, fala-se dos deuses da Finlândia, dos deuses do ar e da água, do fogo e das florestas, do céu e da terra. Na magnífica tradução de J. M. Grawford, Rume L. (vol. 11), o leitor achará a lenda inteira da Virgem Maria em:

MARIATTA, filha da beleza

Virgem-Mãe das Terras Nórdicas... (p. 720)

Ukko, o Grande Espírito, cuja moradia é em Yûmala (o Céu ou Paraíso), escolhe como veículo a Virgem Mariatta para se encarnar por meio dela em Homem-Deus. Ela concebe colhendo e comendo uma baga vermelha (marja). Repudiada pelos pais, dá nascimento a um "FILHO IMORTAL" numa MANJEDOURA DE ESTÁBULO. Mais tarde, o "Santo Menino" desaparece e Mariatta se põe a procurá-lo. Ela pergunta a uma estrela, a "Estrela diretriz dos Países Nórdicos", onde se esconde o "Santo Menino", mas a estrela irritada responde-lhe:

Se eu soubesse, não t'o diria

Foi teu filho quem me criou

No frio, para brilhar sempre...

e nada mais diz à Virgem. A lua dourada tampouco consente em ajudá-la, pois o filho de Mariatta a criou e deixou no grande céu:

Aqui para vagar nas trevas,

Para vagar sozinha à noite,

Brilhando para o bem dos outros...

Somente o "Sol Prateado", tendo pena da Virgem-Mãe, lhe diz:

Acolá está a criança dourada

Lá repousa dormindo teu Santo-Menino

Encoberto pela água até a cintura

Escondido pelos caniços e juncos...

Ela traz de volta o Santo-Menino e, enquanto o chama de "Flor", outros o nomeiam o FILHO DA DOR.

Estaremos em presença de uma lenda pós-cristã? Absolutamente não, pois, como já foi dito, trata-se de uma lenda DE ORIGEM ESSENCIALMENTE PAGÃ e reconhecidamente pré-cristã.

Resulta que, com tais dados literários em mão, devem cessar as acusações sempre repetidas de idolatria e ateísmo. Aliás, o termo idolatria é de origem cristã. Foi empregado pelos primeiros nazarenos durante os dois primeiros séculos e metade do terceiro da nossa era, contra as nações que usavam templos e igrejas, estátuas e imagens, porquanto os primitivos cristãos não possuíam, NEM TEMPLOS, NEM ESTÁTUAS, NEM IMAGENS, e sentiam horror por essas coisas.

Por conseguinte, o termo "idólatras" convém mais aos nossos acusadores que a nós mesmos, como o provará este artigo. Com suas Madonas em todas as esquinas, seus milhares de estátuas de Cristo e Anjos de todas as formas, até a de Santos e Papas, é bastante perigoso para um católico acusar um hindu ou budista de idolatria.

Essa asserção deve agora ser provada.


PARTE II

Podemos começar pela origem da palavra Deus (GOD).

Qual a significação real e primitiva desse termo? Suas significações e etimologias são tão numerosas quanto variadas. Uma delas nos mostra a palavra derivada do termo persa muito antigo e místico: GODA, que quer dizer "ele mesmo", ou alguma coisa emanada por si mesma do Princípio Absoluto. A raiz da palavra é GODAN, donde Wotan e Odin, cujo radical oriental quase não foi alterado pelas raças germânicas. Foi assim que desse radical fizeram GOTZ, donde derivaram o adjetivo GUT, "Good" (bom), assim como o termo GOTA ou ídolo. Da Grécia antiga, as palavras ZEUS e THEOS conduziram à palavra latina Deus. Esse GODA, a emanação, não é e nem pode ser idêntico à coisa da qual emana, e, por conseguinte, é apenas uma manifestação periódica, finita. O antigo Aratus, que escreveu "cheios de Zeus estão todas as ruas e mercados freqüentados pelos homens; cheios d'Ele estão os mares e também os portos", não limita a divindade a um só reflexo, temporário em nosso plano terrestre como ZEUS, ou mesmo seu antecedente DYAUS, mas estende-a ao Princípio Universal, onipresente. Antes de DYAUS - o Dus radioso (o céu) - ter atraído a atenção do homem, existia o Tat védico ("isso", que, para o Iniciado e o filósofo não tem nome definido, e é a noite absoluta, oculta sob cada radiante luz manifestada. Mas, tanto quanto o místico Júpiter, último reflexo de Zeus-Surya, o Sol - a primeira manifestação do mundo de MAYA, o filho de Dyaus - não podia deixar de ser chamado o "Pai" pelo ignorante.

Assim, o Sol tornou-se rapidamente sinônimo de Dyaus, e com ele se confundiu: para alguns, foi o Filho, para outros, o "Pai" no céu radioso. Dyaus-Pitar, o Pai no Filho e o Filho no Pai, mostra, entretanto, sua origem finita, pois que a Terra lhe foi designada por esposa. Foi durante a plena decadência da filosofia metafísica que DYAVAPRITHIVI, "o Céu e a Terra", começaram a ser representados como os pais cósmicos, universais, não somente dos homens, mas também dos deuses. A concepção original da causa ideal, que era abstrata e poética, caiu na vulgaridade. Dyaus, o céu, tornou-se rapidamente Dyaus, o Paraíso, a mansão do "Pai", e finalmente, o Pai mesmo. Em seguida, o Sol se tornou o símbolo deste último, recebendo o título de DINA KARA, "aquele que cria o dia", de Bhâskara, "aquele que cria a luz", e desde então, o Pai de seu Filho e vice-versa.

O reino do ritualismo e do culto antropomórfico foi daí por diante estabelecido, e finalmente domina o mundo inteiro, estendendo sua supremacia até nossa era civilizada.

Sendo tal a origem comum, nada mais nos resta que estabelecer o contraste entre as duas divindades - o Deus dos gentios e o Deus dos judeus - e, julgando-as segundo sua própria definição, concluiremos intuitivamente qual deles se aproxima mais do ideal máximo.

Citaremos o coronel Ingersoll, que colocou Jehovah e Brahma em paralelo. Das nuvens e das trevas do Sinai, Jehovah diz aos judeus:

"Não reconhecerás outros deuses fora de mim... Não te prosternarás diante deles, nem os servirás, pois, Eu, o Senhor, teu Deus, sou um Deus ciumento, transferindo as iniqüidades dos pais aos filhos até a terceira e quarta geração, para que Me temam".

Comparemos isso com as palavras que o hindu colocou na boca de Brahma:

"Eu sou o mesmo para todos os seres. Aqueles que honestamente servem outros deuses, involuntariamente me adoram. Eu sou Aquele que participa de toda adoração e sou a recompensa de todos os adoradores".

Analisemos esses textos. O primeiro, passagem obscura, onde se insinuam coisas que nascem do charco; o segundo, grande como o Firmamento, cuja abóbada está crivada de sóis.

O primeiro mostra o deus que obcecava a imaginação de Calvino, quando à sua doutrina da predestinação acrescentava a do inferno forrado pelos crânios das crianças NÃO BATIZADAS. As crenças e dogmas de nossas igrejas são, pelas idéias que implicam, mais blasfematórias que as dos pagãos MERGULHADOS NAS TREVAS...

Realmente, eles poderão adornar e mascarar quanto quiserem o Deus de Abrahão e Isaac, porém jamais serão capazes de refutar a asserção de Marcião, que nega ser o Deus do ódio o mesmo que o "Pai de Jesus". Seja como for, heresia ou não, o "Pai que está no céu" das igrejas, se tornou desde essa época uma criatura híbrida, uma mescla do JAVE (Júpiter) do povo, entre os pagãos, e do "Deus ciumento" de Moisés; exotericamente, o Sol, cuja mansão está nos céus, ou, esotericamente, o céu.

O brilhante Dyaus, o Filho, não dá nascimento à luz "que brilha nas trevas"; ao dia, e não é ele o Altíssimo DEUS COELUM? E não é ainda a "TERRA", a Virgem sempre imaculada que, concebendo sem cessar, fecundada pelo ardente abraço de seu "Senhor" - os vivificantes raios do Sol - se torna na esfera terrestre, a mãe de tudo que vive e respira em seu vasto seio? Daí, no ritual, o caráter sagrado daquilo que ela produz: - o pão e o vinho. Daí vem também o antigo MESSIS, o grande sacrifício à deusa das colheitas (Ceres Eleusina, ainda a Terra): MESSIS para os Iniciados, MISSA PARA OS PROFANOS [2][2], que hoje veio a ser a missa cristã ou litúrgica. A antiga oferta dos frutos da terra ao Sol, o DEUS ALTISSIMUS, símbolo do G.A.D.U. dos franco-maçons de hoje, tornou-se a base do ritual, a mais importante dentre as cerimônias da nova religião. A adoração oferecida a Osíris-Ísis (o Sol e a Terra) [3][3], a Bel e à cruciforme Astartéa dos babilônios, a Odin ou Thor e Freya dos escandinavos, a Belen e à VIRGO PARTITURA dos celtas, a Apolo e à MAGNA MATER dos gregos, todos esses casais, com a mesma significação, passaram como representação corporal para os cristãos e foram transformados por eles em Senhor Deus, ou no Espírito Santo descendo sobre a Virgem Maria.

DEUS SOL ou SOLUS, o Pai, foi confundido com o Filho: na sua glória radiosa do meio-dia, o "Pai" tornou-se o "Filho" do Sol Levante, quando se dizia que ele "havia nascido". Essa idéia recebia sua plena apoteose anualmente, em 25 de dezembro, durante o solstício de inverno, quando o Sol, dizia-se - nascia e era o mesmo para os deuses solares de todas as nações. NATALIS SOLI INVICTE [4][4]. E o "precursor" do Sol ressuscitado cresce e fortifica-se até o equinócio da primavera (*), quando o Deus-Sol principia o seu curso anual sob o signo de RAM ou Áries, na primeira semana lunar do mês.

O primeiro de março era festejado em toda a Grécia pagã, e suas NEOMENIA era consagradas a Diana. Pela mesma razão, as nações cristãs celebram sua festa de Páscoa no primeiro domingo que segue à Lua Cheia do equinócio da primavera. Da mesma forma que as festas pagãs, as vestimentas CANÔNICAS foram copiadas pelo Cristianismo. Pode ser isto negado? Na sua VIDA DE CONSTANTINO, Eusébio confessa, dizendo talvez a única verdade que jamais proferiu em sua vida, que "para tornar o Cristianismo mais atraente aos gentios, os sacerdotes (do Cristo) adotaram as vestimentas exteriores e os ornamentos utilizados no culto pagão". Poderia igualmente ter acrescentado: seus rituais e dogmas.


PARTE III

Ainda que não se possa reportar ao testemunho da história, é, no entanto, um fato histórico - pois um grande número de fatos relatados pelos antigos escritores o corrobora - ter o ritual da Igreja e da Franco-Maçonaria brotado da mesma fonte e se desenvolvido de mãos dadas...

A Maçonaria era simplesmente, em sua origem, um Gnosticismo arcaico ou um Cristianismo esotérico primitivo; o ritual da Igreja era e É um PAGANISMO EXOTÉRICO pura e simplesmente REMODELADO, pois não podemos dizer reformado.

Vejamos as obras de Ragon, um maçom legado ao esquecimento mesmo pelos maçons de hoje. Estudemos, colecionemos os fatos acidentais, mas numerosos, que se encontram nos escritores gregos e latinos; diversos deles eram iniciados, e a maioria, neófitos instruídos e participantes dos Mistérios. Vejamos, enfim, as calúnias, cuidadosamente elaboradas pelos padres da Igreja, contra os gnósticos, os Mistérios e seus iniciados, e acabaremos por descobrir a verdade. O Cristianismo foi fundado por um pequeno número de filósofos pagãos, que foram perseguidos pelos acontecimentos políticos da época, cercados e tiranizados pelos bispos fanáticos do Cristianismo primitivo, o qual ainda não possuía nem ritual, nem dogmas, nem igrejas.

Misturando da maneira a mais irreligiosa as verdades da religião-sabedoria, com as ficções exotéricas tão gratas às massas ignorantes, foram eles (os filósofos pagãos) que fundaram o primeiro ritual das igrejas e das lojas da Franco-Maçonaria moderna. Este último fato foi demonstrado por Ragon no seu ANTEOMNLAE da Liturgia moderna, comparada com os antigos mistérios, e mostrando o Ritual empregado pelos primeiros franco-maçons.

A primeira asserção pode ser verificada com ajuda de uma comparação entre os costumes em uso nas igrejas, os vasos sagrados, as festas das igrejas latinas e outras, e essas mesmas coisas nas nações pagãs. Mas, as Igrejas e a Franco-Maçonaria divergiram por completo, após haverem se constituído numa só unidade. Se alguém se espantar por um profano ter conhecimento disso, nós responderemos: o estudo da antiga Franco-Maçonaria e da Maçonaria moderna é obrigatório a para todo ocultista oriental.

A Maçonaria, apesar de seus acessórios e inovações modernas (particularmente a introdução nela do espírito bíblico) faz o bem, tanto no plano físico, como no moral; pelo menos era assim que agia faz apenas dez anos. É uma verdadeira ECCLESIA no sentido de união fraternal e de ajuda mútua, a única "religião" no mundo, se considerarmos o termo como derivado da palavra "religare" (ligar), pois que une todos os homens que a ela se filiam como "irmãos", sem preocupações da raça ou fé. Quanto a saber se ela não pôde fazer muito mais do que fez até hoje, com as enormes riquezas que tinha à sua disposição, isso não é da nossa alçada. Até hoje, nunca vimos mal algum saído dessa instituição, e ninguém, fora da Igreja Romana, jamais afirmou tal coisa. Pode-se dizer o mesmo da Igreja?

Que respondam à pergunta a história profana e a história eclesiástica.

Primeiramente, a Igreja dividiu a humanidade em Cains e Abels; massacrou milhões de homens em nome de seu Deus; o Deus dos Exércitos - em verdade, o feroz Jehovah Sabbaoth - e, em vez de dar uma força impulsiva à civilização, da qual seus fiéis se vangloriam orgulhosamente, retardou-a durante a longa e insípida Idade Média.

Somente sob os assaltos repetidos da Ciência e o prosseguimento da revolta dos homens, procurando libertar-se, é que a Igreja começou a perder terreno e não pôde impedir a luz por mais tempo. Suavizou, como ela própria o afirma, o "espírito bárbaro do paganismo"? Com todas as nossas forças, diremos: Não... Os Césares pagãos foram mais sôfregos de sangue ou mais friamente cruéis do que os potentados modernos e seus exércitos? Em que época se acharam milhões de proletários tão esfomeados como os dos nossos dias? Quando a Humanidade derramou mais lágrimas e sofreu mais que no período presente?

Sim, houve um dia em que a Igreja e a Maçonaria foram unidas. Foram então séculos de intensa reação moral, um período de transição onde o pensamento era tão incômodo como um pesadelo, uma idade de luta. Assim, quando a criação de novos ideais conduziu à aparente destruição de velhos templos e de velhos ídolos, em realidade o que se deu foi a reconstrução desses templos com a ajuda dos velhos materiais e a reabilitação dos mesmos ídolos sob novos nomes. Foi uma reorganização paliativa universal, mas somente "à flor da pele".

A história jamais nos dirá - mas a tradição e as pesquisas judiciosas nos ensinam - quantos semi-Hierofantes e altos Iniciados foram obrigados a se tornar apóstatas para assegurar a sobrevivência dos segredos da Iniciação. Praetextatux, procônsul da Arcádia, é digno de fé quando, no quarto século de nossa era, observou que "privar os gregos dos mistérios sagrados QUE LIGAVAM A HUMANIDADE INTEIRA, equivalia a privá-los da vida". Talvez os Iniciados o tivessem compreendido; ele se reuniram NOLENS VOLENS aos partidários da nova fé que começava a dominar, e agiram conseqüentemente.

Alguns judeus gnósticos helezinantes fizeram o mesmo, e assim, mais de um Clemente de Alexandria - um converso na aparência, mas de coração um ardente neoplatônico e filósofo pagão - tornaram-se os instrutores dos ignorantes bispos cristãos. Numa palavra, o converso A CONTRAGOSTO reuniu as duas mitologias exteriores, a antiga e a nova, e dando o amálgama à multidão, guardou para si as verdades sagradas.

O exemplo de Synesius, neoplatônico, nos mostra o que foram essas espécies de cristãos. Qual o sábio que ignora ou nega o fato de que o discípulo devotado e favorito de Hypatia - a virgem filósofa e mártir, vítima da infâmia de Cirilo de Alexandria - nem mesmo tinha sido batizado quando os Bispos do Egito lhe ofereceram o arcebispado de Ptolomáida? Todo estudante sabe que, depois de ter aceito a proposta sem refletir, mas somente dando o seu consentimento real por escrito, depois de suas condições aceitas, e seus futuros privilégios garantidos, é que finalmente foi batizado. Dentre essas condições, havia uma, a principal, que era realmente curiosa: que lhe fosse permitido SINE QUA NON a abstenção de professar as doutrinas cristãs nas quais ele, o novo Bispo, não acreditava. Assim, mesmo batizado e ordenado nos dogmas do diaconato, do sacerdócio e do episcopado, ele jamais se separou de sua mulher, jamais abandonou a filosofia platônica, e tampouco seus divertimentos (esportes), tão estritamente interditos a outros Bispos. Isso aconteceu no fim do século V.

Semelhantes concessões entre filósofos iniciados e sacerdotes reformados do judaísmo foram numerosas nessa época. Os primeiros procuravam manter seus juramentos prestados aos Mistérios, e sua dignidade pessoal. Para isso, eram obrigados a recorrer a compromissos lamentáveis com a ambição, a ignorância e a nascente vaga de fanatismo popular. Acreditavam na Unidade Divina, o Um ou SOLUS incondicional e incognoscível, e entretanto, consentiam em homenagear o Sol em público, o Sol que se movia entre seus doze apóstolos, os signos do zodíaco, ou os doze filhos de Jacó. O HOI POLLOI (o povo), mantido na ignorância do Único, adorava o Sol e cada um interiormente homenageava o Deus que antes honrara. Não era difícil transferir essa adoração das Divindades solares e lunares e de outras Divindades cósmicas, para os Tronos, Arcanjos, Dominações e Santos, ainda mais que essas Divindades siderais foram admitidas no novo cânone cristão com seus antigos nomes, quase sem mudança alguma. Assim é que, durante a missa, o "Grande Eleito" renovava em voz baixa sua adesão absoluta à Unidade Suprema Universal do "Incompreensível Artífice", e solenemente, em voz alta, pronunciava a palavra sagrada, enquanto seu assistente continuava o KYRIE dos nomes dos seres siderais inferiores que as massas deviam adorar.

Aos profanos catecúmenos que, poucos meses ou semanas antes, ofereciam suas orações ao Boi Apis e aos Santos Cynocéfalos, a Íbis Sagrada e a Osíris de cabeça de falcão, em verdade a águia de São João [5][5], e à Pomba Divina (a que paira sobre o cordeiro de Deus no batismo), lhes pareciam ser o desenvolvimento natural e o prosseguimento de sua própria zoologia nacional e sagrada, que haviam aprendido a adorar desde a sua infância.


PARTE IV

Pode-se, pois, demonstrar que a Franco-Maçonaria moderna e o ritual da Igreja descendem em linha reta dos gnósticos iniciados, neo-platônicos, e dos Hierofantes que renegaram os mistérios pagãos, cujos segredos perderam, sendo conservados somente por aqueles que jamais aceitaram compromissos. Se a Igreja e a Maçonaria querem se esquecer da história de sua verdadeira origem, tal não o fazem os teosofistas. Eles repetem: a Maçonaria e as três grandes religiões cristãs herdaram os mesmos bens. As "cerimônias e palavras de passe" da Maçonaria, e as orações, os dogmas e ritos das religiões são cópias disfarçadas do puro paganismo (copiados e emprestados prontamente pelos judeus), e da teosofia neo-platônica. Igualmente, as "palavras de passe" empregadas hoje pelos MAÇONS BÍBLICOS, relacionadas com "a tribo de Judá", os nomes de "Tubal-Caim" e outros dignitários zodiacais do Antigo Testamento, não são mais que aqueles aplicados pelos judeus aos antigos Deuses da plebe pagã; não os Deuses dos Hierogramatas intérpretes dos verdadeiros mistérios. Acharemos a prova disso no que se segue. Os bons Irmãos Maçons dificilmente poderiam negar que, de nome, eles são SOLÍCOLAS, os adoradores do Sol nos céus, onde o erudito Ragon via o magnífico símbolo do G.A.D.U., como o é seguramente.

A única dificuldade para ele estava em provar - o que ninguém pode fazer - que o G.A.D.U. não era o Sol das quireras exotéricas dos PROFANOS, mas o SOLUS DO GRANDE EPOPTAE. Pois o segredo dos fogos de SOLUS, o espírito que cintila na Estrela Flamejante, é um segredo hermético, e a não ser que um maçom estude a verdadeira teosofia, esse segredo está perdido para ele. Nem mesmo as pequenas indiscrições de TTSHUDDI ele compreende. Hoje em dia, os maçons, com os cristãos, santificam o dia do SÁBBAT e o chamam dia do Senhor; entretanto, como qualquer um, ele sabem que o "SUNDAY" dos ingleses, ou o "SONNTAG" dos alemães, significa o DIA DO SOL, como há dois mil anos atrás.

E vós, reverendos bons padres, sacerdotes e bispos que chamais tão carinhosamente a Teosofia de "idolatria" e condenais, abertamente e em particular, seus adeptos à perdição eterna, podereis vangloriar-vos de possuir um simples rito, uma só vestimenta ou um vaso sagrado, seja na Igreja, seja no Templo, que não tenha vindo do paganismo? Não; seria demasiado perigoso afirmá-lo, não somente perante a história, como ante as confissões das autoridades sacerdotais.

Recapitulemos, somente para justificar as nossas asserções. Du Choul escreve:

"Os sacrificadores romanos deviam confessar-se antes do sacrifício. Os sacerdotes de Júpiter usavam um chapéu preto, alto e quadrado, o chapéu dos Flamínios (ver os chapéus dos sacerdotes armênios e gregos modernos). A sotaina negra dos padres católicos romanos é a hierocarace preta, a roupagem dos sacerdotes de Mithra, assim chamada por ser a cor dos corvos (corax). O Rei Sacerdote de Babilônia possuía um sinete que trazia no dedo, um anel de ouro. Suas sandálias eram beijadas pelos potentados submissos a seu domínio; um manto branco, uma tiara de ouro com duas pequenas faixas. Os papas possuem o anel de ouro, as sandálias para o mesmo uso, um manto de cetim branco bordado de estrelas de ouro, a tiara com as pequenas faixas cobertas de pedras preciosas, etc... A vestimenta de linho branco (ALBA VESTIS) é a mesma dos sacerdotes de Ísis; os sacerdotes de Anúbis têm o alto da cabeça raspada (Juvenal), donde deriva a tonsura; a casula dos padres cristãos é a cópia da vestimenta que usavam os sacerdotes sacrificadores dos Fenícios, vestimenta chamada CALÁRSIS, que, presa ao pescoço, descia aos pés. A estrela dos nossos sacerdotes veio da vestimenta feminina usada pelos GALLI, os dançarinos do Templo, cuja função era a mesma do Kadashin judeu (para o verdadeiro termo, veja-se II Reis XXIII, 7); seus CINTOS DE PUREZA vêm do EPHODE dos judeus e da corda dos sacerdotes de Ísis; estes eram votados à castidade (sobre pormenores, ver Ragon)".

Os antigos pagãos usavam a água santa, ou lustral, para purificar suas cidades, seus campos, seus templos e os homens; tudo isso se pratica hoje nos países católicos romanos. As fontes batismais acham-se à porta de cada templo, cheias de água lustral e chamavam-se FAVISSES e AQUIMINARIA. Antes de oferecer o sacrifício, o Pontífice ou CURION (cura) mergulha um ramo de louro na água lustral para aspergir toda a piedosa congregação; o que era então chamado LUSTRICA e ASPERGILIUM, é hoje chamado hissope ou aspersório. Esse aspersório, nas mãos das sacerdotisas de Mithra, era o símbolo do LINGHAM universal; durante os mistérios, era mergulhado no leite lustral para aspergir os fiéis. Era o emblema de fecundidade universal; o uso da água benta no Cristianismo é, portanto, um rito de origem fálica. Ainda mais, a idéia subjacente nesse fato é puramente oculta, e pertence ao cerimonial mágico.

As purificações eram ultimadas pelo fogo, o enxofre, o ar e os elementos. Para obter a atenção dos deuses celestes, havia o recurso das abluções, e para conjurar e afastar os deuses inferiores, usava-se o aspersório.

As abóbada das catedrais e igrejas gregas ou romanas são muitas vezes pintadas de azul e juncadas de estrelas douradas, para representar a abóbada celeste. Isso é copiado dos templos egípcios, onde o Sol e as estrelas eram adorados. A mesma homenagem é feita ainda no Oriente, como na época do paganismo, pela arquitetura cristã e maçônica. Ragon estabelece plenamente este fato em seus volumes, hoje destruídos. O "PRINCEPS PORTA", a porta do mundo, e do "Rei de Glória" - nome pelo qual era designado o Sol e que é agora aplicado ao seu símbolo humano, o Cristo - é a porta do Oriente, de frente para o Este, em todo templo ou igreja. É por essa "porta de vida", a via solene por onde entra diariamente a luz para o quadrado oblongo [6][6] da terra, ou o tabernáculo do Sol, que o recém-nascido é levado às fontes batismais. É à esquerda do edifício (o Norte sombrio donde partem os "aprendizes" e onde os candidatos passam pela PROVA DA ÁGUA) que as pias batismais são colocadas hoje em dia, e onde se achavam, na Antigüidade, as piscinas de água lustral, tendo sido as igrejas antigas templos pagãos. Os altares da Lutécia pagã foram enterrados e reencontrados sob o coro da igreja de Nôtre-Dame de Paris, onde ainda hoje existe o poço onde era conservada a água lustral. Quase todas as grandes e antigas igrejas do continente eram templos pagãos ou foram construídas no mesmo lugar, em conseqüência das ordens dadas pelos Bispos e Papas romanos. Gregório, o Grande, assim dá suas ordens ao frade Agostinho, seu missionário em Inglaterra: "Destrua os ídolos, jamais os templos. Borrife-os de água benta, coloque-lhes relíquias, e que os povos as adorem nos lugares onde têm o hábito de o fazer".

Consultemos as obras do Cardeal Baronius em seus Anais do ano XXXVI, para achar sua confissão. "Foi permitido - diz ele - à Santa Igreja APROPRIAR-SE DOS RITOS E CERIMÔNIAS UTILIZADAS PELOS PAGÃOS NO SEU CULTO IDÓLATRA, pois que ela (a Igreja) OS REGENERARIA PELA SUA CONSAGRAÇÃO. Nas "antiguidades gaulesas" de Fauchet, lemos que os Bispos de França adotaram e usaram as cerimônias pagãs a fim de converter os pagãos ao cristianismo.

Isto se passou quando a Gália era ainda um país pagão. Os mesmos ritos e as mesmas cerimônias em uso hoje em dia na França cristã e em outras nações católicas, serão realizados num espírito de gratidão e reconhecimento aos pagãos e seus deuses?


PARTE V

Até o século IV, as igrejas não possuíam altares. Até então, o altar era uma mesa colocada no meio do templo para uso da comunhão ou repasto fraternal. (A Ceia, como missa, era, em sua origem, dita à noite). Igualmente, hoje em dia, a mesa é posta na "Loja" para os banquetes maçônicos no final das atividades da Loja, nos quais os Hiram Abiff ressuscitados, os "filhos da viúva" enobrecem os seus brindes pelo "fining", uma forma maçônica de transubstanciação.

Chamaremos também de altares às mesas de seus banquetes? Por que não? Os altares foram copiados da ARA MAXIMA de Roma pagã. Os latinos colocavam pedras quadradas oblongas perto de seus túmulos e as chamavam ARA, altar; eram consagradas aos deuses dos lares e aos Manes. Nossos altares derivam dessas pedras quadradas, outras formas dos marcos-limites conhecidos como Deuses - Têrmos, os Hermes e os Mercúrio, donde vêm os Mercúrio "QUADRATUS, QUADRÍFIDOS, etc...", os deuses de QUATRO FACES de que as pedras quadradas são símbolos desde a mais alta antiguidade. A pedra sobre a qual se coroavam os antigos Reis de Irlanda, era um altar idêntico; existe uma dessas pedras na Abadia de Westminster [7][7], à qual, além disso, se atribui uma voz. Assim, todos os nossos altares e tronos descendem diretamente dos marcos-limites priápicos dos pagãos, os Deuses-Têrmos.

Sentir-se-á indignado o leitor fiel aos ensinamentos da Igreja, se lhe ensinarmos que somente sob o reinado de Deocleciano os cristãos adotaram o COSTUME PAGÃO de adoração em templos? Até essa época sentiam insuperável horror aos altares e templos, e durante os primeiros 250 anos de nossa era os consideravam uma abominação. Esses cristãos primitivos são mais pagãos que qualquer dos antigos idólatras. Os primeiros eram o que são os teosofistas de nossos dias; do IV século em diante se tornaram Heleno-judaicos, gentios, tendo a menos a filosofia neoplatônica. Leiamos o que Minitius Felix dizia aos Romanos no 3º século:

"Imaginais que nós, cristãos, escondemos o que adoramos PORQUE NÃO POSSUÍMOS TEMPLOS E ALTARES? Mas que imagem de Deus levantaríamos desde que o homem é em si mesmo a imagem de Deus? Que templo poderíamos levantar à Divindade, quando o Universo, que é sua obra, pode dificilmente conte-la? Como colocar o Onipotente num só edifício? Não é melhor consagrarmos um templo à Divindade em nosso coração e em nosso espírito?"

Mas, nessa época, os cristãos do tipo de Minitius Felix tinham presente na memória os ensinamentos do Mestre Iniciado, de não rezar nas sinagogas e nos templos, como fazem os hipócritas, "para serem vistos pelos homens". Lembravam-se da declaração de Paulo, o Apóstolo Iniciado, o "Mestre Construtor", que o homem era o único templo de Deus no qual o Espírito-Santo - o espírito de Deus - permanecia. Obedeciam aos verdadeiros preceitos cristãos, enquanto os cristãos modernos obedecem somente aos cânones arbitrários de suas respectivas Igrejas e às regras que lhe deixaram os seus antepassados. "Os teosofistas são notoriamente ateus", diz um escritor do CHURCH CHRONICLE; "não se conhece um só que assista ao serviço divino... a Igreja é para eles odiosa"; e, repentinamente, dando livre curso à sua cólera, começa a profligar os infiéis, os pagãos M.S.T.

O homem da Igreja moderna também joga suas pedras no teosofista, como o fizeram os seus antepassados, os fariseus da "Sinagoga dos Libertinos", quando lapidaram Etienne por ter dito o que dizem alguns teosofistas cristãos, isto é, que o "Altíssimo não reside num templo construído por mãos de homens" - e não hesita, como o fizeram esses juízes iníquos, em subornar testemunhas para nos acusar.


PARTE VI

A teoria do "mito solar" aparece atualmente tão repisada "ad nauseum", que a ouvimos repetida dos quatro pontos cardeais do orientalismo e do simbolismo, e aplicada sem discernimento a todas as coisas e a toda religião, excetuando-se a igreja cristã e as religiões do Estado. Sem dúvida, o Sol foi na Antigüidade, e desde tempos imemoriais, o símbolo da divindade criadora, não somente entre os parsis, mas também em outras nações; o mesmo se dá nos cultos ritualistas; como o era antigamente, continua a sê-lo em nossos dias. Nossa estrela central é o Pai para os PROFANOS; para o EPOPTAE é o Filho da Divindade Incognoscível.

Ragon, o maçom já citado, nos diz: "o Sol era a mais sublime e natural das imagens do Grande Arquiteto; igualmente, a mais engenhosa de todas as alegorias pelas quais o homem moral e bom (o verdadeiro sábio) simbolizara a INTELIGÊNCIA infinita, sem limite". Com exceção desta última afirmação, Ragon tem razão. Ele nos mostra o símbolo gradualmente se afastando do ideal, assim concebido e representado, terminando por se tornar no espírito de seus adoradores ignorantes, não mais um símbolo, mas o próprio Sol. O grande escritor maçônico prova em seguida que o Sol FÍSICO é que era considerado como o Pai e o Filho pelos primeiros cristãos. Diz ele:

"Ó Irmãos Iniciados, podereis vos esquecer que nos templos da religião existente, uma grande LÂMPADA brilha noite e dia? Ela está suspensa diante do altar principal, lá onde está depositada a arca do Sol. Uma outra LÂMPADA brilhando diante da Virgem-Mãe, é o emblema da claridade da LUA. Clemente de Alexandria nos faz saber que os egípcios foram os primeiros a estabelecer o uso religioso das lâmpadas... Sabe-se que o mais sagrado e o mais terrível dos deveres era confiado às Vestais. Se os templos maçônicos são iluminados por três luzes astrais - o Sol, a Lua e a estrela geométrica - e por três luzes vitais - o hierofante e seus dois epíscopes (vigilantes) - é porque um dos pais da maçonaria, o sábio Pitágoras, habilmente sugeriu que não deveríamos falar das coisas divinas sem estarmos esclarecidos pela luz. Os pagãos celebravam a festa das lâmpadas, chamadas 'lampadofórias' em honra de Minerva, Prometeu e Vulcão. Mas, Lactâncio e alguns dos primeiros padres da nova fé se lamentavam amargamente da introdução pagã das lâmpadas nas igrejas. Lactâncio escreve: "SE ELES SE DIGNASSEM CONTEMPLAR ESSA LUZ QUE NÓS CHAMAMOS SOL, RECONHECERIAM DESDE LOGO QUE DEUS NÃO PRECISA DE SUAS 'LÂMPADAS'; e Vigilantus acrescenta: 'Sob o pretexto de religião, a Igreja estabeleceu o costume dos gentios de acender mesquinhas velas, enquanto o Sol está nos iluminando com mil luzes. Pode lá ser uma grande honra ao 'Cordeiro de Deus representar-se o Sol dessa maneira, quando, ocupando o MEIO DO TRONO (o Universo), ele o enche com o resplendor de sua Majestade?' Tais passagens nos provam que nesses dias a igreja primitiva adorava o Grande Arquiteto do Universo em sua imagem, o Sol Único, o único de sua espécie ("A Missa e seus Mistérios")".

Realmente, enquanto os candidatos cristãos devem pronunciar o juramento maçônico virados para Este, e seu "Venerável" permanece no lado oriental (porque os neófitos assim faziam nos Mistérios pagãos), conserva a Igreja, por sua vez, o mesmo rito. Durante a Grande Missa, o altar-mor (ARA MAXIMA) é ornado com o tabernáculo ou PYX (a caixa na qual o Santo-Sacramento é fechado) e com seis lâmpadas; o significado exotérico do tabernáculo e seu conteúdo, símbolo do "Cristo-Sol", é a representação do luminar resplandecente, e as seis velas representam os seis planetas (os primeiros cristãos não conheciam mais que esses), três à sua direita e três à sua esquerda Isso é uma cópia do candelabro de sete braços da Sinagoga, cujo significado é idêntico. SOL EST DOMINUS MEUS (o Sol é meu Senhor), diz David no Salmo XCV, e isso é traduzido muito engenhosamente na versão autorizada: "O Senhor é um grande Deus, um grande Rei, acima de todos os deuses!" (V. 3) ou na realidade, os dos planetas. Agostinho Chalis é mais sincero quando diz na sua PHILOSOPHIE DES RELIGIONS COMPARÉES: "Todos são DEV (demônios) nesta terra, menos o Deus dos Videntes (Iniciados), e se em Cristo nada mais vedes que o Sol, vós adorais um DEV, um fantasma, tal como o são todos os Filhos da Noite".

Sendo o Este o ponto cardeal donde surge o astro do dia, o Grande Dispensador e sustentáculo da vida, criador de tudo que existe e respira neste globo, não é de se estranhar que todas as nações da terra tenham adorado nele o agente visível do Princípio e da Causa invisível, e que a missa seja dita em honra daquele que é o dispensador das MESSIS ou colheitas. Mas, entre a adoração do Ideal em si e adoração do símbolo, há um abismo. Para o egípcio douto, o Sol era o olho de Osíris, não o próprio Osíris; o mesmo se dava com os sábios adoradores de Zoroastro.

Para os primeiros cristãos, o Sol tornou-se a divindade IN TOTO e, pela força da casuística, do sofisma e dos dogmas que não devem ser discutidos, as Igrejas cristãs modernas acabaram por obrigar as pessoas cultas a aceitar essa opinião. As Igrejas hipnotizaram-nas numa crença de que seu Deus é a ÚNICA Divindade vivente, o criador do Sol, não o próprio Sol, demônio adorado pelos "pagãos". Mas que diferença há entre um demônio e um Deus antropomórfico, tal como é representado nos PROVÉRBIOS de Salomão? Esse "Deus, que ameaça com palavras como estas: 'Eu rirei de vossas calamidades, escarnecerei dos vossos temores' (Prov. I, 27), salvo se os pobres, os desesperados, os ignorantes clamarem por Ele, quando seus 'temores os assolam com uma calamidade' e quando a 'ruína lhes cai como um turbilhão". Comparemos esse Deus com o Grande Avatar, sobre o qual foi fundada a lenda cristã e vamos identificá-la com o Grande Iniciado que disse: "Benditos sejam os que choram, pois serão consolados". Qual o resultado dessa comparação?

Eis aí como justificar a alegria diabólica de Tertuliano, que sorria e se regozijava com a idéia de seu parente próximo, "infiel", assando no fogo eterno, assim como o conselho dado por Hieronymus ao cristão convertido, de calcar aos pés o corpo de sua mãe pagã, se ela procurar impedir que ele a abandone para sempre, a fim de seguir a Cristo...


PARTE VII

O ritual do Cristianismo primitivo - como já está suficientemente demonstrado - deriva da antiga Maçonaria. Esta é, por sua vez, a herdeira dos Mistérios, quase desaparecidos nessa época. Diremos algumas palavras sobre estes: é bem conhecido de toda a Antigüidade que, a par da adoração popular feita de letra morta e formas vazias das cerimônias exotéricas, cada nação tinha seu culto secreto, designado na sociedade como sendo os Mistérios.

Strabon, entre outros, dá seu testemunho dessa asserção (Georg. Lib X). "Ninguém era admitido aos Mistérios se não estava preparado por um treinamento particular. Os neófitos, instruídos na parte superior dos Templos, eram iniciados, nas criptas, ao Mistério final. Essas instruções constituíam a última herança, e última sobrevivência da antiga sabedoria, e é sob a direção de Altos Iniciados que os Mistérios eram REPRESENTADOS. Empregamos de propósito o termo REPRESENTADO, pois que as instruções ORAIS, EM VOZ BAIXA, eram dadas somente nas criptas, em segredo e num silêncio solene. As lições sobre a teogonia e cosmogonia eram expressas por representações alegóricas; o MODUS OPERANDI da evolução gradual do Kosmos, dos mundos e finalmente de nossa terra, dos Deuses e dos homens, tudo isso era comunicado simbolicamente. As grandes representações públicas, que eram dadas durante as festas dos Mistérios, tinham por testemunha o povo que adorava cegamente as verdades ali personificadas. Somente os Altos Iniciados, os EPOPTAE, compreendiam sua linguagem e seu significado real. Tudo isso e muito mais ainda é conhecido pelos sábios.

Todas as antigas nações pretenderam saber que os Mistérios reais, concernentes ao que se chama, tão pouco filosoficamente, a criação, foram divulgados aos Eleitos de nossa raça (a quinta) por essas primeiras dinastias de REIS DIVINOS - "Deuses na carne", "Encarnações divinas ou Avatares".

As últimas estrofes extraídas do Livro de Dzyan para a DOUTRINA SECRETA (vol. 3, p. 27 - ed. inglesa) falam dos que reinaram sobre os descendentes "nascidos do Santo Rebanho" e... "que tornaram a descer e fizeram a paz com a quinta raça, e a instruíram e ensinaram".

A frase "fizeram a paz" mostra que houve uma CONTENDA precedente. O destino dos Atlantes em nossa filosofia e o dos pré-diluvianos na Bíblia corrobora essa idéia. Uma vez mais, e isso muitos séculos antes dos Ptolomeus, o mesmo abuso da ciência sagrada dominou lentamente os Iniciados do Santuário egípcio. Os ensinamentos sagrados dos Deuses, mesmo conservados em toda sua pureza durante séculos inumeráveis, a par da ambição pessoal e do egoísmo dos Iniciados, foram de novo corrompidos. O significado dos símbolos encontrou-se muitas vezes profanado por inconvenientes interpretações, e, bem cedo, os mistérios de Elêusis foram os únicos que permaneceram puros de toda alteração e de toda inovação sacrílega. Eram celebrados em Atenas em honra de Demeter (Ceres) ou da Natureza, e foi lá que a elite intelectual da Grécia da Ásia Menor foi iniciada. No seu quarto livro, Zózimo afirma que esses iniciados pertenciam a toda a humanidade (7) e Aristides chama aos Mistérios: "O Templo comum de toda a terra".

Foi para conservar alguma lembrança desse "templo" e reconstrui-lo oportunamente, que alguns eleitos, dentre os Iniciados, foram escolhidos e postos de reserva. Isto foi cumprido pelo seu Grande Hierofante em cada século, desde a época em que as alegorias sagradas mostraram os primeiros sintomas de profanação e de decadência.

Finalmente, os Grandes Mistérios de Elêusis tiveram o mesmo destino dos outros. Sua superioridade primordial e seu alvo primitivo são descritos por Clemente de Alexandria, que nos mostra como os Grandes Mistérios divulgavam os segredos e o modo da construção do Universo, sendo isso o começo, o fim e o último alvo do conhecimento humano. E mostrava-se ao Iniciado a natureza de todas as coisas tais como são (strom 8). Tal era a Gnose Pitagórica: "o conhecimento das coisas tais como são".

Epícteto fala dessas instruções em termos os mais elevados: "Tudo que lá está estabelecido, o foi por nossos Mestres para instrução dos homens e correção de nossos costumes" (apud Arriam, Dissert. lib. cap. 21) - e Platão diz o mesmo em seu PHEDON; o fim dos Mistérios era restabelecer a alma em sua primitiva pureza, ESSE ESTADO DE PERFEIÇÃO QUE ELA HAVIA PERDIDO.


PARTE VIII

Mas chegou a época em que os Mistérios se desviaram de sua pureza, como aconteceu às religiões exotéricas. Isso começou quando o Estado, sob o conselho de Aristogiton, entendeu de fazer dos Mistérios de Elêusis uma constante e fecunda fonte de rendas. Promulgou-se uma lei para esse efeito. Daí por diante, ninguém podia ser iniciado sem pagar uma certa soma pelo privilégio. O que até então era adquirido ao preço de incessantes esforços, quase sobre-humanos, em direção à virtude e à perfeição, tornou-se adquirível com ouro. Os laicos, e mesmo os sacerdote - aceitando essa profanação, perderam o antigo respeito pelos Mistérios interiores e isso acabou por conduzir a ciência sagrada à profanação.

A ruptura feita no véu alargou-se em cada século e, mais do que nunca, os sublimes Hierofantes, temendo a publicação e alteração dos segredos mais santos da natureza, trabalharam para eliminá-los do programa INTERIOR, limitando seu pleno conhecimento a um pequeno número.

Aqueles que foram POSTOS DE RESERVA, tornaram-se os únicos guardiães da divina herança das idades passadas.

Sete séculos mais tarde, encontramos Apuleio, apesar de sua sincera inclinação à magia e à mística, escrevendo no seu "Idade de Ouro" uma sátira amarga contra a hipocrisia e o deboche de certas ordens de sacerdotes, meio-iniciados. Por ele nos cientificamos também de que no seu tempo (século II depois de J.C.), os Mistérios se tornaram tão comuns que pessoas de todas as condições e classes, em todas as nações, homens, mulheres e crianças, TODOS ERAM INICIADOS! Nesse tempo a iniciação era tão necessária quanto o batismo em nossos dias, e correspondia ao que é o batismo: uma cerimônia sem significação e de pura foram. Ainda mais tarde, os fanáticos da nova religião deitaram suas pesadas mãos sobre os Mistérios.

Os EPOPTAE, aqueles "que viam as coisas tais quais são", desapareceram um a um, emigrando para regiões inacessíveis aos cristãos. Os MISTOS (mistos ou velados), "esses que vêem as coisas tais como parecem ser", tornaram-se em seguida, rapidamente, os únicos senhores da situação.

São os primeiros, os "POSTOS DE RESERVA", que conservaram os verdadeiros segredos, e são os MITOS, os que só conhecem as coisas superficialmente, que assentaram a pedra fundamental da FRANCO-MAÇONARIA MODERNA. Dessa fraternidade primitiva de maçons, semi-pagãos, semi-convertidos, nasceram o ritual cristão e a maior parte dos dogmas.

Os EPOPTAE e os MISTOS são ao mesmo tempo designados pelo nome de Maçons, pois todos, fiéis ao juramento feito a seus Hierofantes e "Reis" desaparecidos há muito, reconstruíram SEUS TEMPLOS; os EPOPTAE, seu templo "inferior", e os Mistos, seu templo "superior", pois tais eram os nomes com os quais eram irrespeitosamente designados em certas regiões, tanto na antiguidade, como em nossos dias. Sófocles fala, em ELECTRA, (ato II) sobre os fundamentos de Atenas - o lugar dos Mistérios de Elêusis - como sendo o "edifício sagrado dos Deuses", isto é, construído pelos Deuses. A iniciação era descrita como um "passeio do Templo", e a "purificação' ou "reconstrução do Templo" se referia ao corpo do Iniciado na sua última e suprema prova. (Ver o Evangelho de São João, II: 19). A doutrina exotérica era algumas vezes designada sob o nome de "templo", e a religião popular exotérica pelo nome de "cidade". CONSTRUIR UM TEMPLO significava fundar uma escola exotérica; CONSTRUIR "UM TEMPLO NA CIDADE" se referia ao estabelecimento de um culto público. Por conseguinte, os verdadeiros sobreviventes dos Maçons são esses do Templo INFERIOR, ou a Cripta, lugar sagrado da iniciação; são os únicos guardiães dos verdadeiros segredos maçônicos perdidos agora para o mundo.

De bom grado concedemos à fraternidade moderna dos Maçons o título de "construtores" do "TEMPLO SUPERIOR", apesar da superioridade do adjetivo dado a priori ser tão ilusória como a chama da sarça de Moisés nas Lojas dos Templários.


PARTE IX

A alegoria mal compreendida, conhecida pelo nome de descida aos Infernos, causou muitos males. A "Fábula" esotérica de Hércules e de Teseu descendo às REGIÕES INFERNAIS; a viagem de Orfeu aos Infernos, encontrando seu caminho graças ao poder de sua lira (Ovídio, METAMORFOSES), a viagem de Krishna e finalmente do Cristo que "desceu aos Infernos" e "ressuscitou dos mortos" ao terceiro dia, todas se tornaram irreconhecíveis pelos "adaptadores" não iniciados dos ritos pagãos, que os transformaram em ritos e dogmas da Igreja.

Do ponto de vista astronômico, essa DESCIDA AOS INFERNOS simboliza o Sol durante o equinócio do outono. Imaginava-se, então, que ele abandonava as altas regiões siderais e travava um combate com o demônio das trevas, que nos tira a melhor parte de nossa luz. Concebia-se o sol sofrendo uma morte temporária e descendo às regiões infernais. Mas, sob o ponto de vista místico, essa alegoria simboliza os ritos de iniciação nas criptas do Templo, chamadas o "mundo inferior" (HADES). Baco, Héracles, Orfeu, Asklépios e todos os outros visitantes da cripta, desciam aos infernos, donde ressurgiam ao terceiro dia, pois todos eram Iniciados e "construtores do Templo Inferior".

As palavras de Hermes, dirigidas a Prometeu encadeado sobre as rochas áridas do Cáucaso - Prometeu ligado pela ignorância e devorado pelo abutre das paixões - aplicavam-se a cada neófito, a cada CHRESTOS durante as provas. "Não há fim para o teu suplício até que Deus (ou um deus) apareça e te alivie as tuas dores, consentindo em descer contigo ao tenebroso HADES, às sombrias profundezas do Tártaro" (Ésquilo: PROMETEU, 1.027 e ss.) Isto quer simplesmente dizer que, enquanto Prometeu (ou o homem) não encontrar o "deus" ou o Hierofante (o Iniciador) que desça voluntariamente consigo às criptas da iniciação e o dirija em torno do Tártaro, o abutre das paixões não cessará de devorar os seus órgãos vitais [8][8].

Ésquilo, como Iniciado, não podia dizer mais do que isso! Mas, Aristófanes, menos piedoso, ou mais audacioso, divulga o segredo aos que não estão cegos pelos preconceitos por demais enraizados, em sua sátira imortal AS RÃS, sobre a "descida aos infernos" de Herákles. Lá encontramos o coro dos bem-aventurados (os Iniciados), os Campos-Elíseos, a chegada de Baco (o deus Hierofante) com Terakles, a recepção com as tochas acesas, emblema da NOVA VIDA e da RESSURREIÇÃO das trevas da ignorância humana para a luz do conhecimento espiritual, a VIDA ETERNA. Cada palavra da brilhante sátira atesta a intenção interior do poeta:

Animai-vos, tochas ardentes... pois as vens

Agitando em tua mão, Jaco [9][9]

Estrela fosforescente do rito noturno

As iniciações finais sempre eram feitas à noite. Falar-se, por conseguinte, de alguém que houvesse descido aos infernos equivalia, na antiguidade, a designá-lo como um INICIADO PERFEITO. Aos que se sentirem inclinados a rejeitar essa explicação, eu farei uma pergunta: podem eles nos revelar, neste caso, a significação de uma frase contida no sexto livro de Eneida de Virgílio? Que quer dizer o poeta senão o que exprimimos acima, quando, introduzindo o venerável Anquises nos Campos Elíseos, ele o induz a aconselhar seu filho Enéas a realizar a viagem à Itália... onde teria que combater, em Latium, um povo rude e bárbaro; mas, acrescenta ele, "não te aventures a tal antes de teres concluído A DESCIDA AOS INFERNOS", quer dizer, "antes de seres um Iniciado".

Os clérigos benévolos que, sob a menor das provocações, estão sempre prontos a nos mandar ao Tártaro e às regiões infernais, não suspeitam o bom voto formulado a nosso respeito, e qual o caráter de santidade que deveremos adquirir para poder entrar num local tão sagrado.

Os pagãos não eram os únicos a ter os seus Mistérios. Belarmino (de Eccl. Triumph lib. II, cap. 14) afirma que os primeiros cristãos adotaram, dentre o conjunto das cerimônias pagãs, o costume de reunir-se na Igreja durante as noites que precediam suas festas, para ali passar em vigília, ou "vesperas".

Suas cerimônias, no começo, foram realizadas com pureza e a mais edificante santidade, mas nessas reuniões não tardaram em infiltrar-se abusos de imoralidade, e os Bispos julgaram melhor suprimi-las. Temos lido dúzias de livros que falam da licenciosidade que reinava nas festas religiosas pagãs. Cícero (de Leg. Lib. II, cap. 15) nos mostra Diagondas, o Aebano, que não encontra, para remediar tais desastres nas cerimônias, outras medidas senão a supressão dos próprios mistérios. Entretanto, quando comparamos as duas espécies de celebrações - os mistérios pagãos santificados desde tempos remotos, muitos séculos antes de nossa era, e os ágapes cristãos de uma religião apenas nascida e com pretensões a tão grande influência purificadora sobre seus conversos - não podemos deixar de lamentar a cegueira mental dos seus defensores cristãos, de citar em sua intenção esta pergunta de Roscommon:

"Se começais com tal pompa e tal ostentação,

Por que é tão mesquinho e tão baixo o vosso fim?"


PARTE X

O Cristianismo primitivo - tendo derivado da Maçonaria primitiva - também tinha seus sinais, suas palavras de passe e seus graus de iniciação. "Maçonaria" é um termo antigo, e seu emprego não vai muito além da nossa era. Paulo intitula-se "Mestre Construtor", e era um deles.

Os antigos maçons eram designados por nomes diferentes, a maior parte dos ecléticos alexandrinos, os teósofos de Ammonius Saccas e os últimos neoplatônicos eram todos virtualmente maçons. Todos estavam ligados pelo juramento do segredo. Todos se consideravam uma fraternidade e tinham também seus sinais de reconhecimento. Os ecléticos ou filaleteos contavam em suas fileiras com os sábios mais capazes e mais eruditos da época, como também diversas cabeças coroadas. O autor da FILOSOFIA ECLÉTICA assim se exprime:

"Suas doutrinas foram adotadas pelos pagãos e pelos cristãos na Ásia e na Europa, e durante algum tempo tudo parecia favorável a uma fusão geral das crenças religiosas. Foram adotadas pelos imperadores Alexandre, Severo e Juliano. Sua influência predominante sobre as idéias religiosas excitaram os ciúmes dos cristãos de Alexandria; a escola foi transferida para Atenas, e em seguida fechada pelo imperador Justiniano. Seus instrutores SE RETIRARAM PARA A PÉRSIA [10][10] onde tiveram numerosos discípulos".

Outros pormenores poderiam ser interessantes. Sabemos que os Mistérios de Elêusis sobreviveram a todos os outros. Enquanto os cultos secretos dos Deuses Menores, como os CURATES, os DACTYLI, os adoradores de Adonis, de KBIRI, e mesmo esse do velho Egito, desapareciam sob a mão vingativa e cruel do desumano Theodósio [11][11], os Mistérios de Elêusis não podiam ser tão facilmente suprimidos. Eles eram, na verdade, a religião da Humanidade e brilhavam com todo seu antigo esplendor, senão na sua pureza primitiva. Seriam necessários vários séculos para aboli-los e eles se perpetuaram até o ano 396 de nossa era. Foi então que os "Construtores do Templo Superior, ou do Templo da Cidade", apareceram em cena pela primeira vez, e trabalharam sem descanso para introduzir seu ritual e seu dogma particular na Igreja nascente, sempre contendora e combativa. O tríplice "Santus" da missa da igreja católica romana é o S.S.S. daqueles maçons primitivos, e é também o prefixo moderno de seus documentos ou de todo "balaústre" [12][12]; é a inicial de SALUTEM ou SAÚDE e por isso foi dito acertadamente por um Maçom: "Essa tríplice saudação maçônica é a mais antiga entre os maçons". (Ragon)


PARTE XI

Mas os enxertos maçônicos na árvore da religião cristã não se limitam a isso. Durante os Mistérios de Elêusis, o vinho representado BACO e o pão ou trigo, CERES [13][13]. Ora, Ceres ou Demeter era o princípio produtor feminino da terra, a esposa do pai Aether ou Zeus; e Baco, o filho de Zeus-Júpiter, era seu pai manifestado. Noutros termos, Ceres e Baco eram as personificações da substância e do espírito, os dois princípios vivificantes em a natureza e sobre a terra. O Hierofante Iniciador apresentava simbolicamente aos candidatos, antes da revelação final dos mistérios, o vinho e o pão, que estes comiam e bebiam para testemunhar que o espírito devia vivificar a matéria, isto é, que a Divina Sabedoria do Eu Superior devia penetrar no Eu interior ou alma, tomar posse dele, auto-revelar-se.

Esse rito foi adotado pela Igreja cristã. O Hierofante, que então era chamado o "Pai", tornou-se agora - menos o conhecimento - o padre, o "pai" que administra a mesma comunhão. Jesus se chama a si mesmo a vinha, e a seu "Pai", o Vinhateiro; suas palavras na Última Ceia mostram seu perfeito conhecimento do significado simbólico do pão e do vinho, assim como sua identificação com os LOGOI dos antigos: "Aquele que comer minha carne e beber meu sangue, terá a vida eterna"... E acrescenta: "as palavras (RHEMATA, ou palavras secretas) que vos dou, são Espírito e Vida". Elas o são, porque "é o Espírito que vivifica". Essas RHEMATA de Jesus são, na verdade, as palavras secretas DE UM INICIADO.

Mas entre esse nobre rito, tão velho como o simbolismo, e sua última interpretação antropomórfica, conhecida agora como transubstanciação, há um abismo de sofisma eclesiástico. Quanta força há na exclamação: "Infelizes sois, Homens da Lei, pois REJEITASTES A CHAVE DO CONHECIMENTO" (e hoje nem sequer permitis que gnose seja dada aos outros), e eu, com decuplada força digo que essas palavras jamais foram de maior aplicação que em nossos dias.

Sim, essa GNOSE "vós não a deixais penetrar em vós mesmo, e os que quiseram e querem atingi-la, foram por vós impedidos', e ainda os impedis.

Os sacerdotes modernos não são os únicos que merecem essa censura. Os maçons, os descendentes ou, em todo caso, os sucessores dos "construtores do Templo Superior" da época dos Mistérios, e que deviam ter um melhor conhecimento, escarnecem e desprezam os seus irmãos que se lembram de sua verdadeira origem. Diversos grandes sábios e cabalistas modernos, que são maçons e que poderíamos citar, não recebem de seus irmãos senão um desdenhoso sacudir de ombros. É sempre a mesma velha história. Mesmo Ragon, o mais erudito dentre os maçons de nosso século, queixou-se nestes termos: "Todas as velhas narrações atestam que as iniciações na antiguidade continham um cerimonial imponente, tornado memorável para sempre pelas grandes verdades divulgadas e pelos conhecimentos que dele resultaram. Entretanto, ALGUNS MAÇONS MODERNOS DE MEIO-SABER se apressam em tratar de charlatães todos os que, felizmente, se lembram dessas antigas cerimônias e desejam aplicá-las" (Curso. Filos.)


PARTE XII

"Vanitas, vanitatum": Nada é novo sob o Sol. As "litanias da Virgem Maria" o provam da maneira mais categórica. O Papa Gregório I introduziu a adoração da Virgem Maria, e o Concílio de Caldedônia proclamou-a Mãe de Deus. Mas, o autor das Litanias não teve receio (talvez por culpa de sua inteligência) de orná-las com o títulos e adjetivos pagãos, como o demonstrarei.

Não há um símbolo ou metáfora nessas célebres Litanias que não pertença a um mundo de deusas; todas são Rainhas, Virgens ou Mães. Esses três títulos se aplicavam a Ísis, Rhea, Cibele, Diana, Lucífera, Lucina, Luno, Tellus, Latone, Triformis, Proserpina, Hécate, Juno, Vesta, Ceres, Leucotéia, Astarté, a celeste Vênus e Urânia, Alma Vênus, etc., etc...

Ao lado do significado primitivo da Trindade (significado esotérico, ou o do Pai, da Mãe e do Filho), não encontramos nós o "Trimurti" oriental (Deus de três faces), que no Panteão maçônico representa: "o Sol, a Lua e o Venerável"?. Ligeira alteração, em verdade, do Norte e do germânico Fogo, Sol e Lua?

Talvez fosse o íntimo conhecimento disto que fez o maçom Ragon escrever a seguinte profissão de fé:

"Para mim, o filho é o mesmo que Hórus, filho de Osíris e de Ísis; ele é o Sol que, cada ano, salva o mundo da esterilidade, e todas as raças da morte universal".

E ele continua falando das litanias da Virgem Maria, dos templos, das festas, das missas e dos serviços da Igreja, das peregrinações, oratórios, jacobinos, franciscanos, vestais, prodígios, "ex-voto", nichos, estátuas, etc...

De Marville, um grande hebraísta, tradutor da literatura rabínica, observa que os judeus dão à Lua todos os nomes que se acham nas Litanias e são utilizados para glorificar a Virgem. Encontra nas "Litanias de Jesus" todos os atributos de Osíris - o Sol Eterno - e de Hórus - o Sol anual.

E ele o prova.

"Mater Christi" é a mãe do "Redentor" dos antigos maçons, que é o "Sol". Entre os egípcios, os "hoi polloi" pretendiam que o Menino, símbolo da grande estrela central, Hórus, era o Sol de Osireth e Oseth, cujas almas, depois de sua morte, haviam animado o Sol e a Lua. Com os fenícios, Ísis se tornou Astarté, nome sob o qual adoravam a Lua personificada por uma mulher ornada de chifres que simbolizavam o crescente. Astarté era representada no equinócio de outono, depois que seu esposo (o Sol) tinha sido vencido pelo Príncipe das Trevas, e descido aos infernos, chorando a perda deste esposo, que é também, seu filho, tal qual o faz Ísis chorando seu esposo, irmão e filho (Osíris e Hórus). Astarté tem em sua mão uma vareta cruciforme, uma autêntica cruz, e chora sobre o crescente da Lua. A Virgem-Maria cristã é freqüentemente representada na mesma atitude, de pé sobre a Lua Nova, cercada de estrelas e chorando seu filho: "justa crucem lacrymosa dum pendebat filius" (ver o "Stabat Mater Dolorosa"). Não está aí a sucessora de Astarté, de Ísis? - pergunta o autor.

Realmente, basta recitarmos as "Litanias da Virgem" da Igreja Católica Romana, para verificar que repetimos os antigos encantamentos dirigidos à Adonaia (Vênus), a mãe de Adônis, o Deus Solar de tantas nações; à Mylitta (a Vênus assíria), deusa da Natureza; à Alilat, que os árabes simbolizam por dois chifres lunares; à Selene, mulher e irmã de Hélios, o deus Sol dos gregos; ou à "Magna Mater... honestissima, purissima, castissima", a Mãe Universal de todos os Seres, porque é a NATUREZA MÃE.

"Maria" é realmente a Ísis Myrionymos, a deusa mãe dos dez mil nomes! Como o Sol, que era Febo nos céus, tornou-se Apolo na terra e Plutão nas regiões mais inferiores (depois do por do Sol), da mesma forma a Lua, que era Feba nos céus, Diana na terra (Gaia, Latone, Ceres), tornou-se Hécate e Proserpina no Hades. Será espantoso que Maria seja chamada "Regina Virginum", "Rainha das Virgens", e "castissima", "a mais casta", quando as próprias orações que lhe são dirigidas às seis horas da manhã e da tarde, foram copiadas daquelas cantadas pelos gentios (pagãos), "às mesmas horas", em honra de Feba e de Hécate? Sabemos que os versos das "Litanias da Virgem Stella Matutina" é uma cópia fiel do verso que se encontra nas Litanias dos "Triformis" dos pagãos. Foi o Concílio que condenou Nestorius, por ter designado, pela primeira vez, Maria como a "Mãe de Deus", "Mater Dei".

Mais tarde teremos algo a dizer sobre essas famosas Litanias da Virgem, e demonstraremos plenamente sua origem. Colheremos as provas extraídas dos clássicos e dos modernos à medida que avançarmos, e completaremos o conjunto com os "Anais" das Religiões, tais como se encontram na doutrina esotérica. Enquanto esperamos, incorporaremos algumas outras exposições e daremos a etimologia dos termos, os mais sagrados, do ritual eclesiástico.


PARTE XIII

Prestemos alguns momentos de atenção às assembléias dos "Construtores do Templo Superior" nos primeiros tempos do Cristianismo. Ragon nos mostrou plenamente a origem dos seguintes termos:

a) "A palavra 'Missa' vem do latim MESSIS - 'colheita', donde o nome de MESSIAS, aquele que faz amadurecer as colheitas - 'Cristo-Sol'.

b) A palavra 'Loja', da qual se servem os maçons, fracos sucessores dos Iniciados, toma sua raiz em LOGA (LOKA em sânscrito), uma localidade e um MUNDO; e do grego LOGOS - a Palavra, um discurso, cujo pleno significado é: um local onde certas coisas são discutidas".

c) As reuniões dos LOGOS dos Maçons, PRIMITIVOS INICIADOS, acabaram sendo chamadas SYNAXIS, 'assembléias' de Irmãos, com o fim de rezar e celebrar a Ceia (refeição), onde eram utilizadas somente as oferendas não manchadas de sangue, tais como os frutos e cereais. Logo depois essas oferendas foram chamadas HOSTIAE, ou HOSTIAS puras e sagradas, em contraste com os sacrifícios impuros (como os prisioneiros de guerra, HISTES, donde o francês HOSTAGE - ÔTAGE ou REFÉM), e porque as oferendas consistiam de frutos da colheita, as primícias de MESSIS. Já que nenhum Pai da Igreja menciona, como certos sábios o teriam feito, que a palavra missa vem do hebreu MISSAH (OBLATUM, oferenda), esta explicação é tão boa quanto a outra. (Para um estudo profundo da palavra Missah e Mizda, ver os GNOSTICOS, de King, p. 124 e seguintes).

A palavra SYNAXIS tinha seu equivalente entre os gregos na palavra AGYRMOS (reunião de homens, assembléia). Referia-se à Iniciação nos Mistérios. As duas palavras, SYNAXIS e AGYRMOS (14) caíram em desuso, e a palavra MISSA prevaleceu e ficou.

Desejosos com estão os teólogos de velar pela sua etimologia, diremos que o termo "Messias" (Messiah) deriva da palavra latina MISSUS (Mensageiro, o Enviado). Mas, se assim é, essa palavra poderia também ser aplicada ao Sol, o mensageiro anual, enviado para trazer nova vida à terra e à sua produção. A palavra hebraica Messiah, MASHIAH (o ungido, de Mashah, ungir) dificilmente poderia ser aplicada no sentido eclesiástico, ou seu emprego ser justificado como autêntico, tanto quanto a palavra latina MISSAH (missa) não deriva da outra palavra latina MIT-TERE, MISSUM, "enviar" ou "reenviar". Porque o serviço da comunhão, seu coração e sua alma, se fundamenta na consagração e oblação da HÓSTIA (sacrifício), um pão ázimo (fino como uma folha) representando o corpo de Cristo na Eucaristia, e sendo feito de flor de farinha, é um desenvolvimento direto da colheita ou oferendas de cereais.

Ainda mais, as missas primitivas eram Ceias (ou último alimento do dia), simples refeição dos romanos, em que eles "faziam abluções", eram ungidos e se vestiam do SENATORY, e foram transformadas em refeições consagradas à memória da última ceia de Cristo.

No tempo dos apóstolos, os judeus convertidos se reuniam em seus SYNAXIS para ler os Evangelhos e suas correspondências (Epístolas). São Justino (ano 150 de nossa era) nos diz que essas Assembléias solenes eram feitas nos dias chamados "sun" (o dia do Senhor, e em latim, DIES MAGNUS). Nesses dias, havia o canto dos salmos, a "colação" do batismo com água pura e o ÁGAPE da Santa Ceia "com água e o vinho". Que tem a ver essa combinação híbrida das refeições romanas pagãs, erigidas em mistério sagrado pelos inventores dos dogmas da Igreja, com o MESSIAH hebreu, "aquele que deve descer às profundezas" (ou Hades), ou com o Messias (que é a sua tradução grega)? Como demonstrou Nork, JESUS JAMAIS FOI UNGIDO, NEM COMO GRANDE SACERDOTE, NEM COMO REI, e é por isso que seu nome MESSIAS não pode derivar da palavra equivalente hebraica, ainda mais que a palavra "ungido" ou "untado de óleo", termo homérico, é CHRI e CHRIO, ambos significando UNTAR O CORPO DE ÓLEO (ver Lúcifer, 1887: THE ESOTERIC MEANING OF THE GOSPELS - O Significado Esotérico dos Evangelhos).

As frases seguintes de um outro maçom de grau elevado, autor da SOURCES DES MESURES, resumem em algumas linhas esse "imbroglio" secular: "O fato é , diz ele, que existem DOIS MESSIAS: um, descendo por sua própria vontade ao abismo para a salvação do mundo (15) - é o Sol despojado de SEUS RAIOS DE OURO e coroado de raios negros como espinhos (simbolizando essa perda); o outro, o MESSIAS triunfante, que alcançou o ÁPICE DO ARCO DO CÉU, personificado pelo LEÃO DA TRIBO DE JUDÁ. Em ambos os casos, ele tem a cruz...

Nas AMBARVALIAS, festas romanas dadas em honra de Ceres, o ARVAL, assistente do Grande Sacerdote, vestido de branco imaculado, colocava sobre a HOSTIA (a oferenda do sacrifício) um bolo de trigo, água e vinha; provava o vinho das libações e dava-o a provar aos outros. A OBLAÇÃO (ou oferenda) era então erguida pelo Grande Sacerdote. Tal oferenda simbolizava os três reinos da natureza: o bolo de trigo (o reino vegetal), o vaso do sacrifício ou CÁLICE (o reino mineral) e o PAL (a estola) do Hierofante, uma de cujas extremidades pousava sobre o cálice contendo o vinho da oblação. Essa estola era feita de pura lã branca de tosão de cordeiro.

Os padres modernos repetem gesto por gesto os atos do culto pagão. Eles erguem e oferecem o pão para a consagração; benzem a água que deve ser posta no cálice, e em seguida vertem o vinho, incensam o altar, etc., etc... e, voltando ao altar, lavam os dedos, dizendo: "Eu lavarei minhas mãos entre o Justo e rodearei teu altar, Ó Grande Deusa!" (Ceres). Assim o fazem porque o antigo sacerdote pagão assim o fazia, e dizia: "Eu lavo minhas mãos (com água lustral) entre o Justo (os irmãos completamente iniciados) e rodeio teu altar, ó Grande Deusa! (Ceres)".

O Grande Sacerdote fazia três vezes a volta ao altar, levando as oferendas, erguendo acima de sua cabeça o cálice coberto com a extremidade de sua estola feita de lã de cordeiro, branca como a neve...

A vestimenta consagrada, usada pelo Papa, PALLIUM, TEM A FORMA DE UMA MANTA FEITA DE LÃ BRANCA, COM UM GALÃO DE CRUZES PÚRPURAS. Na Igreja grega, o Padre cobre o cálice com a extremidade de sua estola pousada sobre seu ombro.

O Grande Sacerdote da antiguidade repetia três vezes durante o serviço divino seu "O Redemptor Mundi" a Apolo - o Sol; seu "Mater Salvatoris" a Ceres - a Terra; seu Virgo Partitura à Virgem Deusa, etc... pronunciando SETE COMEMORAÇÕES TERNÁRIAS. (Ouvi, ó maçons!). O número ternário tão reverenciado na antiguidade, como em nossos dias, é pronunciado sete vezes durante a Missa; temos três INTROITO, três KYRIE ELEISON, três MEA CULPA, três AGNUS DEI, três DOMINUS VOBISCUM, verdadeiras séries maçônicas. Acrescentemos-lhes os três ET CUM SPIRITU TUO, e a missa cristã nos oferecerá as mesmas SETE COMEMORAÇÕES TRÍPLICES.

Paganismo, Maçonaria, Teologia, tal é a trindade histórica que governa o mundo SUB-ROSA.

Podemos terminar com uma saudação maçônica, e dizer: Ilustre dignitário de Hiram Abif, Iniciado e "Filho da Viúva": o Reino das Trevas e da ignorância desaparece rapidamente, mas há regiões ainda inexploradas pelos sábios e que são tão negras quanto a noite do Egito.

FRATRES SOBRII ESTOTE ET VIGILATE.

F I N I S

FIM



[1][1] A Sociedade Teosófica (do tempo de Blavatsky).

[2][2] De PRO, "antes", e FANUM, "templo", quer dizer, os não-Iniciados que se postam ao templo e não ousam entrar.

[3][3] A Terra e a Lua, sua parente, são similares. Assim, todas as deusas lunares eram também símbolos que representavam a Terra (ver "Doutrina Secreta", Simbolismo)

[4][4] Nascimento do sol invicto.

* No dia 21 de março, no Hemisfério Norte.

[5][5] É erro dizer-se que só depois do século XVI João Evangelista se tornou o Santo Patrono da Franco-Maçonaria. Há sobre o fato um erro duplo. Entre João, o "Divino", o "Vidente", o autor do Apocalipse, e João, o Evangelista, representado hoje em companhia da Águia, há uma grande diferença. João Evangelista é uma criação de Irineu, tanto quanto o 4o. Evangelho. Um e outro foram o resultado da disputa entre o Bispo de Lyon e os Gnósticos, e jamais poderemos saber quem foi o autor real do maior dos evangelhos. Mas, o que sabemos é que a águia é propriedade legal de João, o autor do Apocalipse, cuja origem remonta a séculos antes de Jesus Cristo, e foi reeditado somente antes de receber a hospitalidade canônica. Esse João, ou Johanes, era o patrono aceito por todos os gnósticos gregos e egípcios (que foram os primeiros construtores ou pedreiros do Templo de Salomão, como anteriormente o foram das pirâmides). A Águia, seu atributo - o mais arcaico dos símbolos - era o AH, o pássaro de Zeus, consagrado ao Sol por todos os antigos povos. Os Cabalistas Iniciados, mesmo entre os judeus, adotaram-na como o símbolo do Sephira Tiphi-e-reth, o AETHER Espiritual ou ar, como diz M. Myers na Kabbalah. Entre os Druidas, a Águia foi o símbolo da Divindade Suprema e uma parte desse símbolo se ligava aos Querubins. Adotado pelos gnósticos pré-cristãos, pode-se vê-lo aos pés do Tau do Egito, antes de ter sido posto no grau Rosa Cruz aos pés da cruz cristã. Além do mais, o pássaro do Sol, a Águia, é essencialmente ligado a cada deus solar; é o símbolo de todo vidente que olha na luz astral e ali vê a sombra do passado, do presente e do futuro, tão facilmente quanto a águia contempla o Sol.

[6][6] Termo maçônico, um símbolo da arca de Noé e da Aliança, do templo de Salomão, do tabernáculo e do campo dos israelitas, todos construídos em "quadrados oblongos". Mercúrio e Apolo eram representados por cubos e quadrados oblongos, e dá-se o mesmo na Kaaba, o grande templo de Meca.

[7][7] Como um dos mais preciosos tesouros da tradicional Inglaterra, vê-se na figura a famosíssima "LIA-FAIL" ou PEDRA DA COROAÇÃO. Esta Pedra Sagrada, que serviu de assento ao Trono onde são coroados os Monarcas ingleses, permaneceu por séculos na Abadia de Westminster, em Londres, tendo sido há poucos anos levada para a Escócia, que a reivindicava ardorosamente. A pedra atual, ao que tudo indica, é uma réplica da verdadeira, depois que esta foi "roubada" há alguns anos atrás, deixando o "ladrão" uma enigmática sigla gravada a canivete na madeira do trono... A Pedra da Coroação é uma Pedra retangular, de cor avermelhada, e acerca da qual existem inúmeras e estranhas lendas. Os escoceses sempre a reivindicaram a posse dessa misteriosa pedra, durante o tempo que permaneceu na Inglaterra. Quando do seu desaparecimento acima referido, foram os mesmos acusados como sendo o causadores do rumoroso "rapto"... A origem da "LIA-FAIL", no entanto, se perde na noite dos tempos, sendo objeto de veneração e orgulho nacional, tanto para os ingleses, como para os escoceses. Sabe-se, entretanto, que o rei Eduardo I, da Inglaterra, em suas conquistas, a retirou do mosteiro de SCONE, levando-a para a Abadia de Westminster. O Trono da Coroação, na Abadia de Westminster, em Londres, foi feito de carvalho, por Eduardo I, para incrustar a pedra da coroação. A partir dessa época, os escoceses nunca cessaram de lutar por sua reconquista, pois, para eles, a Pedra representa o que de mais sagrado existe para sua pátria ultrajada. Recentemente, conseguiram o seu intento. Por outro lado, para a tradição cristã, a famosa Pedra serviu de cabeceira ao Patriarca Jacó. Segundo outros, no entanto, a Pedra foi trazida por Moisés, quando de sua fuga do Egito, libertando o povo hebreu do cativeiro. Daí a origem do nome "LAPIS FARAONI" com que a mesma Pedra é também designada. Consta que Haitebeques, casado com Scot, filha do faraó, saiu em busca da mesma e, apoderando-se dela, atravessou todo o Norte da África, chegando à Europa. Na Galícia, fundou o reino, a cuja capital deu o nome de "Brigatium". Em louvor à Pedra, transformou-a em trono. A partir daí, todos os monarcas, seus descendentes, passaram a ser entronizados sob a égide da miraculosa "Pedra da Coroação". Um dos descendentes remotos de Haitebeques, ao colonizar a Irlanda, mandou, juntamente com o seu filho Simão Brec, a famosa Pedra, possibilitando, assim, a expansão do Reino. Segundo ainda outros autores, foi esta Pedra que deu origem à Ilha "Fail", e era considerada como PEDRA FALANTE, pois sempre falava quando era preciso designar o rei. Foi também designada de "ANCORA VITAE". Há ainda a lenda relacionada com a Pedra em questão, que transcrevemos aqui: "o pétreo pilar, no qual dormiu Jacob em Bethel, foi trazido ao Egito; dali foi levado por Simon Breck para a Irlanda. Lá, na montanha sagrada de Tara, tornou-se "LIA FAIL", a "Pedra do Destino". Fergus, fundador da monarquia escocesa, levou-a através do mar para Dunstaffnage; Kenneth II removeu-a para Scone". - Nota do compilador, baseado em artigo adaptado de Roberto Lucíola (O Graal e as Pedras Sagradas)

[8][8] A região obscura da cripta, na qual, supunha-se, o candidato à iniciação rejeitava para sempre suas más paixões ou maus desejos. Provêm daí todas as alegorias contidas nas obras de Homero, de Ovídio, de Virgílio, etc..., que os sábios modernos tomam no sentido literal. O Phlegetonte era o rio no Tártaro, onde o Iniciado era mergulhado três vezes pelo Hierofante, depois do que estavam terminadas as provas. O homem havia nascido de novo; tinha deixado para sempre o velho homem de pecado na corrente sombria, e ao terceiro dia, quando saía do Tártaro, era um INDIVIDUALIDADE; a PERSONALIDADE estava morta. Toda alegoria (como a de Ixion, Tântalo, Sísifo, etc.) é a personificação de alguma paixão humana.

[9][9] Outro nome de Baco.

[10][10] Podemos acrescentar: e mais além, na Índia, na Ásia Central, pois encontraremos sua influência em todos os países asiáticos.

[11][11] O assassino dos tessalônicos, que foram massacrados por esse piedoso filho da Igreja.

[12][12] Balaústre - termo maçônico, significando trabalho escrito.

[13][13] Baco é certamente de origem hindu. Pausânias o mostra como sendo o primeiro que conduziu uma expedição contra a Índia e que construiu uma ponte sobre o Eufrates. "O cabo que servia para unir as duas margens opostas é mostrado hoje, diz um historiador, tecido de cepos de vinha e de ramos de hera restaira" XXXIV, 4). Arianus e Quinto Cúrcio explicavam a alegoria do nascimento de Baco, saído da coxa de Zeus, dizendo que ele havia nascido no monte Meru, e nós sabemos que Eratósthenes e Strabon acreditavam que o Baco hindu fora inventado pelos cortesãos de Alexandre, simplesmente para agradá-lo, pois que ele se comprazia em pensar que havia conquistado a Índia, tal qual se supunha havia feito Baco. Mas, por outro lado, Cícero menciona o Deus como sendo filho de Thyne e de Nisus; Dionísios significa o Deus Dis, do monte Nys da Índia. Baco coroado de hera ou Kissos, não é senão Krishna, um de cujos nomes era Kissen. Dionísios era, antes de tudo, o Deus com o qual se contava para libertar as almas dos homens de suas prisões de carne: - Hades ou o Tártaro humano, num destes sentidos simbólicos. Cícero chama a Orfeu "um filho de Baco", e aqui encontramos uma tradição que, não somente representa Orfeu como vindo da Índia (diziam-no moreno de pele tisnada), mas também o identifica com Arjuna, o "chela" e filho adotivo de Krishna. (Ver Five Years of Theosophy).

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